O debate sobre machismo (felizmente) tem conquistado espaço na sociedade brasileira. Os direitos da mulher e a igualdade de gênero são pautas presentes no debate público e, por conta disso, podem ser abordadas também na publicidade. Melhor ainda se for feito nos segmentos mais sensíveis a esse tipo de discussão: carro e cerveja. Dois exemplos recentes mostram que é possível as marcas encararem temas tidos como “espinhosos” e superar antigos tabus.
Skol: para não perder o trem da história
A cerveja que desce redondo se notabilizou pelas campanhas com mulheres vestindo trajes, digamos, econômicos. A Skol foi uma das grandes responsáveis pela associação quase natural entre comercial de cerveja e mulheres seminuas. Hoje em dia, esse tipo de publicidade não apenas saiu de moda como é repudiada por boa parte da sociedade. A solução encontrada pela marca foi a autocrítica, com a recriação de pôsteres antigos. Seis ilustradoras foram convidadas para fazer releituras de anúncios icônicos da Skol, fundamentalmente com uma mudança no papel da mulher. As novas artes refletem o empoderamento feminino e marcam uma transição histórica na comunicação da Skol.
Veja abaixo o vídeo da ação:
Alguém pode dizer que, na época em que foram veiculados, os pôsteres da Skol eram aceitáveis e “conversavam” com o público da cerveja. Embora saibamos que a objetificação da mulher é ruim em qualquer tempo, somente agora as pessoas têm dado mais atenção a essa questão. Em 2017, o machismo não desce redondo. Ou, como disse a própria Skol nesta ação, “Redondo é sair do seu passado”.
Renault: são as mulheres que dirigem mal?
A máxima de que mulheres são motoristas mais desastradas do que homens é disseminada há gerações sem maiores questionamentos. À medida que o feminismo ganha força, ideias como essa passam a ser mais combatidas. Mas o que muita gente não imaginava é que as próprias estatísticas ajudam a acabar com essa visão machista. A campanha #eudirijoquenemmulher, da Renault, mostra com números que as mulheres são mais prudentes do que os homens no trânsito. Por exemplo, 70% das infrações são cometidas por eles. O objetivo é conscientizar a sociedade de que mulheres são melhores motoristas, embora a antiga máxima diga o contrário.
Confira o vídeo da ação:
A publicidade pode ser a mudança
Ações como as que foram realizadas por Skol e Renault são altamente positivas para a propaganda como um todo. Esse tipo de campanha mostra que a publicidade pode exercer um papel transformador na sociedade e ajudá-la a caminhar para frente. A venda não deixa de ser o fim, mas é importante o mercado compreender que uma mensagem poderosa também contribui para melhores resultados.
A evolução da sociedade, aqui ilustrada pelo empoderamento feminino, sempre acontecerá com ou sem anúncios publicitários que a “avalizem”. Mas a sensibilidade para tocar temas como esse é o que pode destacar uma marca de suas concorrentes em segmentos tão concorridos.